Monday, January 8, 2018

Um Olhar às Crenças, Ideologias e Objetivos de Imam Khomeini (2)



Na perceção do Imam, o governo Islâmico, sem contar com as diferenças substanciais de objetivos e de ideais de um ponto de vista organizacional, possui também diferenças básicas para com o sistema político contemporâneo. De acordo com aquele ponto de vista ou teoria, a “maioria” torna-se legítima com base na “verdade” (haq) e, na senda desta, a necessidade de realizar velayat - tutela - depende da presença das suas condições, incluindo a aceitação pública, a qual é realizada por via da seleção natural direta ou através da eleição pelos peritos da nação. 

Portanto, a ligação entre o povo, a liderança e o Governo Islâmico é profunda e fiel e, por causa disso, Imam Khomeini pôde conduzir e instituir um dos mais populares tipos de governo. Neste tipo de governação, ao contrário dos restantes sistemas políticos mundiais existentes, o povo, após determinação da liderança e realizando eleições, não renega a sua responsabilidade, nem é deixado a si próprio. Antes, a sua presença nos episódios de gestão do Sistema Islâmico é garantida como um dever religioso incumbente. De acordo com Imam Khomeini, o pilar do governo Islâmico é o amor e a confiança recíprocos entre o povo e a chefia competente. Nesta conexão, Imam Khomeini afirmou: “Qualquer jurista que atue ditatorialmente será expulso da curadoria… O líder e a liderança, nas religiões divinas, incluindo o Islão, não são em si mesmas algo grande que sirva para tornar o homem orgulhoso e presunçoso”. Foi tal ponto de vista que fez Imam Khomeini afirmar: “Chamarem-me servidor é melhor do que me chamarem líder. A liderança não é o que conta; o que conta é o serviço; o Islão tornou necessário que sirvamos… Sou um irmão do povo Iraniano e considero-me seu servo e soldado… No Islão, só uma coisa comanda e tal coisa é a lei. A Lei também imperava durante o período do honorável Profeta; Ele foi o implementador”. Dirigindo-se a regimes que se consideravam governantes absolutos e superiores aos seus povos, Imam Khomeini disse: “Um governo é um pequeno conjunto de pessoas que serve a nação. Tais governantes não entendem que o governo sirva o povo, que ele não existe para governar sobre eles… A atenção do povo, a sua participação, cooperação e supervisão do governo escolhido por eles, são por si próprias uma enorme garantia de proteção da sociedade”. A diferença entre esta teoria da soberania nacional e a segurança social e a teoria que define o governo e a soberania – até nos sistemas políticos mais democráticos – apenas dentro do âmbito do “poder” e dos seus acessórios, e que portanto considera o poder como o pilar mais importante da segurança social, é bastante clara. Imam Khomeini afirmou: “Um grande poder não se consegue manter sem ter uma base nacional”. A desintegração do aparentemente poderoso sistema Comunista, por um lado, e, por outro lado, a perpetuação da República Islâmica do Irão e a sua estabilidade, apesar da animosidade dos maiores poderes mundiais existentes e a imposição de uma guerra de oito anos de duração, constituem as melhores provas da legitimidade da teoria de Imam.

É óbvio que a visão de Imam Khomeini acerca do governo islâmico e a posição que o povo nele ocupa nada tem a ver com o autoproclamado “nacionalismo” da cultura política mundial. Antes, é o exato oposto de tal. O nacionalismo, quando aparece como uma ideologia, aparte a sua inabilidade prática, resulta numa antítese de valor. Porque tal visão, se as imaginações nacionalistas de cada nação são introduzidas como factos defensáveis, significa que não existem factos e valores estáveis e que eles variam e mudam constantemente, de acordo com o número de nacionalidades, de geografias e de fronteiras políticas que são modificadas em cada momento. Também o são a interpretação dos factos, dos valores e dos assuntos como a justiça, a paz e a liberdade, sendo estes também numerosos, mutáveis e antitéticos. Naturalmente, em tais condições, a nação, que por qualquer razão possui mais instrumentos e ferramentas de poder, considerará a imposição do seu domínio sobre as nações mais fracas como seu legítimo direito. Porque o nacionalismo extremo não é mais do que superioridade de raça, cor, língua e posição geográfica e histórica. Na base da evidência documental histórica, Imam Khomeini acreditava que a promoção do “nacionalismo e da etnocracia”, a instituição de movimentos como os do Pan-arabismo, Pan-turquismo, Pan-iranianismo e aparentados, no Terceiro Mundo e em países Islâmicos, são o resultado de estudos e de esforços realizados pelos colonialistas para dividir os respetivos países, semear a discórdia e impor o seu domínio.

Imam Khomeini costumava afirmar “O plano dos grandes poderes e dos seus afiliados no Terceiro Mundo é o de virar estratos muçulmanos uns contra os outros e de dividir os respetivos crentes, para os quais Deus Todo-Poderoso concedeu o espírito de irmandade, e de designá-los pelos seus nomes étnicos, i.e., nação Turca, nação Árabe, nação Curda, etc., e inclusive torná-los inimigos um do outro. Isto é exatamente o oposto da via Islâmica e contradiz o Sagrado Corão”. Concluindo, Imam Khomeini afirmava: “O nosso Movimento é Islâmico antes de ser Iraniano”.

Na visão de Imam Khomeini, o estabelecimento da verdadeira paz no mundo com a presença dos poderes arrogantes dominantes e enquanto se aceitar a sua existência e dominação, é senão um pensamento vão. Costumava dizer: “A paz mundial e a sanidade estão orientadas em direção ao derrube do arrogante e enquanto estes corpos sem cultura e sedentos de dominação existirem na terra, os dóceis não herdarão o legado que Deus Todo-Poderoso lhes concedeu…. Esse dia será uma bênção para nós, no qual a dominação do belicoso sobre a nossa inocente nação e sobre outras nações oprimidas será quebrada e removida, e então cada nação tomará o seu destino nas suas próprias mãos…. A América pode derrotar-nos, mas não a nossa Revolução, e por esta razão estou confiante na nossa vitória. A América não entende o conceito de martírio!”.

Em relação à natureza do usurpador governo de Israel e das suas raízes, Imam disse: ”A América, este terrorista natural, é um governo que pegou fogo a todo o mundo e o seu aliado é o Sionismo mundial, o qual, para alcançar os seus objetivos gananciosos, executa crimes que canetas e línguas se envergonham de pronunciar…. Do ponto de vista do Islão, do ponto de vista muçulmano e de todos os critérios internacionais, Israel é um agressor e usurpador…. Eu considero o plano para a independência e reconhecimento de Israel uma catástrofe para os muçulmanos e uma explosão para os governos Islâmicos”. Após a vitória da Revolução, Imam Khomeini denominou a última sexta-feira do mês de Ramadão de “Dia de Al-Quds” e pediu a todos os muçulmanos do mundo que realizem demonstrações anuais nesse dia enquanto Al-Quds permanecer nas mãos dos inimigos do Islão, e que portanto demonstrem o seu apoio aos combatentes palestinianos.

Na opinião de Imam Khomeini, o único modo de libertar Al-Quds é o de acreditar em Deus e de abraçar a escola do martírio e da cruzada armada até à completa alienação de Israel.

Em relação ao Comunismo, Imam Khomeini afirmou: ”Desde o primeiro dia do seu surgimento, os líderes comunistas têm sido e são os mais ditatoriais, sedentos de poder e monopolísticos líderes do mundo”. No que respeita ao progresso do mundo Ocidental, ele afirmou: “Aceitamos o seu progresso mas não a sua corrupção da qual eles próprios se queixam…. A educação ocidental removeu a espécie humana do seu humanismo…. Não nos opomos à civilização, opomo-nos à civilização exportada, queremos uma civilização baseada na honra e no humanismo.”

Sua Santidade, Imam Khomeini, enfatizou o papel infraestrutural da cultura e frequentemente dizia: “A cultura é a origem de toda a felicidade ou miséria…. O que constrói as nações é a cultura saudável…. A barriga, o pão e a água não são critério, a principal questão é a da honra humana…. O homem não é humano e não pode alcançar os seus fins humanísticos enquanto procurar continuar a viver na sombra de metralhadoras, canhões e tanques… Deves tentar, pelas tuas palavras e canetas, arrumar as metralhadoras e abrir a arena por via das letras, conhecimentos e ciências”. Imam Khomeini negava e considerava sem valor as artes que estão ao serviço do colonialismo. Ele também negava a ‘arte pela arte’. Ele costumava afirmar: “No misticismo islâmico, a arte é a descrição clara da justiça, da honra e da equidade. Deve refletir a aflição do povo esfomeado, anatemizado pelo poder e pela riqueza”.

Na área da educação Imam Khomeini foi tanto um teórico como um especialista prático. Pelos seus métodos educativos, ele foi capaz de estabelecer, como pioneiro do grande movimento religioso, uma comunidade cujas culturas e valores tinham, até então, sido esmagados pela traição da dinastia Pahlavi e dos seus afiliados e que se tinham inclinado em direção à indiferença. É dito que durante o ‘levantamento de 15 Khordad de 1342 A.H./1963 D.C.’1, nessas dolorosas condições de estrangulamento social, os seus amigos perguntaram a Imam: contra aquela força quereria ele levantara-se e afirmar o primado da Justiça? Imam apontou para o berço de um bebé. Estranhamento, quinze anos mais tarde, a juventude muçulmana iraniana foi dos principais atores nas arenas do levantamento.

Imam Khomeini considerava que o autoconhecimento e a purga regular de todas as impuridades diabólicas e egotísticas ao longo do curso da vida de cada um constituíam um pré-requisito para obter a verdade e a perfeição (kamal-e haqiqi), e ele acreditava que o auxílio ou a educação devem começar desde a infância e mesmo durante a própria vida fetal, e portanto ele afirma: “Nenhuma ocupação é mais honorável que a da maternidade…. A primeira escola de uma criança é o colo da sua mãe”. Dirigindo-se à comunidade de professores, Imam Khomeini disse: “Tomem cuidado, o ensino da escola elementar é mais importante que a universidade, porque o desenvolvimento mental tem lugar na infância…. Os professores são os depositários que, para além de outras coisas, têm seres humanos confiados ao seu cuidado…. Todas as prosperidades e misérias encontram as suas raízes na escola e os professores possuem as chaves”. Imam Khomeini tinha em conta o ensino como a profissão dos profetas e considerava a orientação da comunidade em direção a Alá como a mais importante ocupação dos professores, aparte do ensino formal das ciências.

Imam Khomeini considerava a humanidade o sumo ou a essência de todos os seres no universo. Ele disse: “O homem é uma maravilha que tanto se pode tornar numa criatura divina ou diabólica…. Pelo treino e educação adequados o mundo inteiro reforma-se”. Ele considerava a educação e a expurgação como tendo prioridade sobre a instrução de sala de aula. Ele acreditava que a ciência, com toda a sua posição exaltada, se não acompanhada por expurgação, é um instrumento ao serviço de objetivos diabólicos; como ele disse “O conhecimento numa mente perversa é mais nocivo que a ignorância!”

Uma das maiores consequências do movimento de Imam Khomeini foi a reintegração do papel da mulher no âmbito das atividades sociais. Arriscamos dizer que em nenhuma altura da história do Irão a mulher ganhou tanta consciencialização geral e política como nessa época, nem nunca estiveram mais envolvidas nos seus próprios destinos como hoje. Durante os dias finais da Revolução, as mulheres estiveram presentes ombro a ombro com os homens e por vezes, inclusive, à frente dos homens, em todos os cenários. Durante a guerra imposta2, o papel da mulher iraniana em prover mantimentos para as frentes de guerra, o seu encorajamento aos respetivos maridos e irmãos para participarem na defesa do Islão e da Revolução, incluindo a sua própria participação no fornecimento de mantimentos para as frentes de combate, foi algo sem precedentes nas guerras contemporâneas.

Neste momento, as mulheres estão bem ativas, com os homens, em todas as atividades sociais, na educação, nas universidades e também nas organizações de saúde, bem como nos órgãos de governo, etc., etc., enquanto antes do triunfo da Revolução Islâmica, devido à atmosfera desfavorável e poluída que o regime do Xá tinha desenvolvido, a maior parte das mulheres islâmicas iranianas tinham-se necessariamente refugiado na atmosfera das quatro paredes de suas casas e muitas raparigas, especialmente nas áreas provinciais e rurais, estavam privadas de educação. Aquelas que, nas grandes cidades, podiam participar em atividades sociais defendiam a sua honra e virtude em condições por demais complicadas, sentindo-se muitas impelidas a desistir da educação ou das suas profissões.

As mudanças que ocorram na sociedade iraniana feminina têm sido, mais do que qualquer outra coisa, um resultado da consideração de Imam Khomeini pela personalidade da mulher e da sua estação, bem como da sua defesa dos seus direitos. Imam costumava dizer: “Na ordem Islâmica as mulheres gozam dos mesmos direitos que os homens possuem: o direito a estudar, a trabalhar; o direito de propriedade, de votar e de ser votada…. Do ponto de vista dos direitos humanos, não existe diferença entre homens e mulheres, pois ambos são seres humanos e as mulheres são admitidas nos assuntos que afetam os seus destinos como os homens…. Ao que o Islão se opõe e considera proibido é a corrupção e o vício, seja da parte das mulheres ou da parte dos homens…. Queremos mulheres que se ergam na sua imponente estação humana e que não sejam brinquedos… O Islão não quer mulheres que sejam joguetes ou bonecas nas mãos dos homens. O Islão deseja proteger a personalidade das mulheres e desenvolvê-las em seres humanos sérios e capazes…. As mulheres são livres, como os homens, de escolherem os seus próprios destinos e atividades…. A liberdade na sua forma ocidental que corrompe raparigas e rapazes é condenada pelo Islão e pela sabedoria”.

As posições e as recomendações económicas de Imam Khomeini foram baseadas na justiça e em dar prioridade aos direitos dos membros da comunidade desamparados e oprimidos. Ele exortava ao serviço dos desamparados como a maior oração e referia-se a eles como os benfeitores da sociedade e dele próprio. A maior parte das recomendações de Imam Khomeini aos agentes da ordem Islâmica era sobre os cuidados para com os indigentes e o de evitar o desenvolvimento de condutas palacianas. Ele acreditava que o governo e os seus empregados e gestores são serventes do povo e um servente não tem o direito de exigir para si próprio melhores circunstâncias que as do público. O Imam afirmou: “Um fio de cabelo dos despossessos e daqueles que deram mártires é muito superior, em honra, a todos os palácios e respetivos hóspedes do mundo…. Aqueles que estão connosco até ao fim da linha são aqueles que experimentaram a dor, a privação e a opressão…. No dia em que o governo se tornar focado no palácio, esse será o dia em que teremos que tocar o dobre de finados do governo e da nação.”

Uma das mais extraordinárias características de Imam Khomeini é a de que todas as suas palavras eram baseadas na crença e na verdade e que, antes dos outros, praticava o que ensinava. O estilo de vida de Imam era o perfeito exemplo de ascetismo, contentamento e simplicidade e este estilo não se confinava ao período pré-liderança. Mais, ele acreditava que o estilo de vida de um líder deve estar ao nível ou ainda mais abaixo que o do mais inferior estrato populacional. Ele esteve ligado ao estilo ascético de existência toda a sua vida. Apesar de volumosos tomos terem sido escritos e publicados acerca deste aspeto da vida de Imam, as dimensões do seu apego ao ascetismo e à vida simples ainda se encontram, em larga medida, inexploradas.

Para fazer uma ideia do estilo de vida de Imam e da sua crença no cuidado extremo com que se deve gastar o Bayt al-mal (Casa do Dinheiro) 3, é o suficiente notar que foi de acordo com o seu ênfase no artigo 142 da Constituição da República Islâmica que o Supremo Tribunal é obrigado a investigar os bens do líder e dos restantes elementos do escalão superior da Ordem Islâmica, anterior e posteriormente à respetiva incumbência ou designação, para garantir que nenhuns aumentos ilegais tenham sido realizados. Imam Khomeini foi a primeira pessoa a submeter uma lista dos seus parcos ativos à consideração do Supremo Tribunal (24/10/1359; 14 de Janeiro de 1979). Imediatamente após a Ascensão de Imam, o seu filho, numa carta impressa nos jornais, pediu ao poder judiciário para investigar de novo os bens de Imam de acordo com a Lei Constitucional. O resultado da investigação foi publicado na consequente homologação pelo Supremo Tribunal, datada de 11/4/1368 (2 de Julho de 1989). Esta declaração revelou que, durante o respetivo lapso de tempo, não apenas nada tinha sido acrescentado ao património de Imam, mas pelo contrário um lote de propriedade que foi herdado de Seu pai foi doado, durante a sua vida e por sua ordem, à indigente população local.

O único ativo imobiliário de Imam Khomeini é a sua antiga casa de Qom, a qual, desde a sua partida em 1343 (1964), foi e, na verdade, tem sido dedicada aos objetivos do Movimento e usada como um centro para reuniões por estudantes-clérigos e visitantes e portanto não possui a natureza de propriedade privada. A dita lista de ativos, que foi preparada em 1359 (1979) na altura da Ascensão de Imam, depois do devido controlo legal, não revelou qualquer adição mas sim redução. Foi mencionado que o falecido não possuía ativos pessoais à exceção de alguns livros. Os poucos utensílios rudimentares necessários para uma vida simples que se encontravam na casa pertenciam à sua mulher. Os dois tapetes em segunda mão não constituíam propriedade pessoal e deveriam ser legados aos Sadat4 (plural de Seyyed, a progenitura do Profeta do Islão) necessitados. O dinheiro líquido era nulo; se alguma coisa existisse, eram as esmolas religiosas provenientes do público que foram deixadas à Autoritária Religiosa para gastos religiosos, não podendo os herdeiros tocar tais fundos. Os restantes ativos de um homem que tinha passado quase 90 anos de vida sob extrema popularidade incluíam uns óculos, um corta unhas, rosários, o Corão, um tapete de oração, um turbante, vestimentas de clérigo e alguns livros religiosos.

Esta era a lista de todos os ativos de um homem que não apenas foi o líder de um país rico em petróleo com dezenas de milhões de habitantes, mas que também comandava os corações de muitos mais milhões, pessoas que, quando Imam emitiu a ordem de mobilização, se alistaram como candidatos a martírio. Estas foram as pessoas que, ao escutaram da doença de coração de Imam, se alinharam nas entradas dos hospitais prontos para oferecer-Lhe o seu. O segredo de tanta popularidade apenas pode ser encontrado na Sua fé, ascetismo e veracidade.

Imam Khomeini favorecia ou, ainda melhor, acreditava profundamente na programação e na disciplina na vida. Ele costumava passar diariamente horas específicas da noite e do dia em oração e em devoção, em rezas e em recitações do Sagrado Corão. Caminhar enquanto invocava Deus e pensava era outra das atividades do seu programa diário. Aos noventa anos de idade ele era um dos líderes políticos mundiais mais ativos. Ele não se abstinha do êxtase do serviço do caminho de exaltação da comunidade Islâmica e de resolver os seus problemas, até nas mais inclementes circunstâncias. Em adição à leitura das principais notícias, dos relatórios de imprensa oficiais e de volumes de boletins, de escutar as notícias na rádio e na televisão locais, Imam Khomeini escutava, várias vezes ao dia, a análise das notícias de rádios estrangeiras de língua persa para que se pudesse familiarizar com o processo de propaganda dos inimigos da Revolução e de planear modos de a combater. As atividades diárias urgentes e as frequentes reuniões com autoridades da Ordem Islâmica não podiam impedir Imam de ter contato com a população, que ele cunhava como o bem mais essencial do Movimento Islâmico. Os detalhes de mais de 3700 encontros com cidadãos comuns nos anos após o triunfo da Revolução estão gravados em dois volumes do livro “Mahzar-eNoor”. Isto com a intenção de indicar o profundo interesse e a relação de Imam com a população do seu tempo. Imam nunca tomou uma decisão que afetasse o destino do povo sem que ele primeiro, fielmente, a discutisse com a população. Ele considerava o povo como o mais digno de confiança, por conhecer os fatos. Imam Khomeini possuía uma face doce e determinada. O seu olhar era solenemente atrativo e repleto de espiritualidade. Qualquer multidão, perante ele, involuntariamente se sentia atraída pela sua espiritualidade e muitos inconscientemente vertiam lágrimas. O povo do Irão tinha um direito de, nas várias palavras de ordem e slogans, rezar a Deus para levar as suas vidas e acrescentar, em vez, mais um momento à de Imam Khomeini. O mundo, alienado de espiritualidade, poderá não crer em tal mas aqueles que cresceram com Imam apreciaram cada momento da vida deste ser adorável, cuja inteira existência foi devotada a Deus e ao serviço do povo.

Não obstante, o Mundo Arrogante e a mass media ocidental fizerem uma grande injustiça a Imam e, ainda mais, à humanidade. Durante anos a sua disseminada propaganda teve como alvo aviltar a personagem de Imam e a Revolução Islâmica. Mesmo hoje, vários anos após a sua Ascensão, numerosas estações de rádio e de televisão estão dia e noite, em volume crescendo, a emitir em pársi mensagens depreciativas para com Imam, a Revolução e os respetivos ideais. A América e a maior parte dos países europeus disponibilizam extensas infraestruturas a grupos antirrevolucionários, incluindo pró-monarquia, a esquerdistas e a Mujahedins5. Cada ano dezenas de livros e centenas de artigos e de periódicos são publicados com a intenção de distorcer os fatos do Movimento de Imam Khomeini. Mas o sol da verdade irá rasgar as negras nuvens de tumulto e de fraude. O mundo ocidental, cuja existência tem sido baseada, desde há vários séculos, na dominação e na exploração de outras nações e na fraude da opinião pública, diagnosticou o cancro incorretamente6. Que pessoa de vistas largas existe que, ao tornar-se familiarizada com a vida e com as mensagens despertadoras de Imam Khomeini, não se atraia pelo seu caminho? E mais, que não se levante contra esta ordem cruel que domina o mundo?

Na verdade, porque é que a publicação, a distribuição e o estudo da Última Mensagem (Testamento) de Imam Khomeini proibida na maior parte dos países islâmicos e árabes cujos governos são regimes fantoches? Porque é tal considerado um crime? Tão extensiva mobilização de infraestruturas e a aliança, de chefes de estado, para encobrir o pensamento e o movimento de Imam Khomeini; do que se trata tudo isso? Será não outra coisa que o facto de que Imam defendia algumas verdades e valores por falta dos quais a humanidade tem ardido desde há séculos? Para aqueles que estão familiarizados com a vida imaculado de Imam Khomeini, que escutaram a sua mensagem e que conheciam a sua personalidade, não há dúvida que a tocha que Imam alumiou não poderá perecer, nem ser distorcida por entre todas estas ladainhas hostis e ruinosas tempestades de distorções. “Pretendem extinguir a Luz de Deus com as suas (infames) bocas; porém, Deus completará a (revelação de) Sua Luz, embora isso desgoste os incrédulos.” (Sagrado Corão, Surá 61 ‘As Fileiras’, versículo 8).




1  [N.T.] Khrodad é o mês persa que em 1963 corresponde ao mês de Junho, durante o qual ocorreu o massacre de manifestantes afetos ao Imam Khomeini. Durante esse ano, o Xá Pálavi anunciou e implementou medidas tendentes à reforma económica do Irão e uma abertura do País ao investimento estrangeiro. Tais medidas foram fortemente contestadas por Imam Khomeini, que galvanizou a cúpula religiosa xiita na oposição à denominada ‘Revolução Branca’, que tanto submetia o país aos interesses geopolíticos dos E.U.A e de Israel, como atentava à influência do Islão no mesmo. A 3 de Junho de 1963, no feriado sagrado de Ashura, Imam Khomeini denunciou nos mais fortes termos o Xá e comparou o seu regime ao do Califado Omíada, cujo soberano Yazid I derrotou o filho do Profeta em Karbala. Tal discurso recebeu esmagador apoio popular, tendo nesse mesmo dia cerca de cem mil apoiantes do Imam marchado à porta do palácio real em Teerão, entoando cânticos de ‘Morte ao Xá’. Na madrugada do dia 5 de Junho, forças paramilitares, sob ordens do regime, detém o Imam em Qom – cidade sagrada onde este proferiu o seu discurso – e tropas militares prendem manifestantes nas várias cidades onde a contestação ao Xá e o apoio ao Imam se tinham alastrado, alguns deles já marchando em direção Teerão sob o slogan ‘Khomeini ou a morte’. Os milhares de vítimas mortais por ocasião da brutal repressão das forças policiais e militares afetas ao então regime são relembradas anualmente neste dia, dando o mesmo o nome a uma das principais ruas do centro de Teerão, situada junto do Palácio do Golestão, residência do Xá na capital e local da sua coroação.

2   [N.T.] O autor refere-se à Guerra Irão-Iraque ocorrida entre 1980 e 1988.

3  [N.T.] Termo arábico que se refere á instituição financeira pública, cujos antecedentes datam do Antigo Califado, cujo propósito é o de administrar os impostos.

4  [N.T.] Título honorífico (Saíde em português) que designa as pessoas aceites como descendentes do Profeta por via dos seus netos  Hasan ibn Ali e Husayn ibn Ali, filhos de Fátima, filha de Maomé, e do seu genro Ali ibn Abi Talib, o primeiro Imam xiita e . Não havendo estatísticas fiáveis, estima-se o número de Saídes em dezenas de milhões.

5 [N.T.] O autor refere-se à Organização dos Mujahedins do Povo Iraniano, conhecida internacionalmente por abreviaturas diversas - EK, PMOI ou MKO. Tendo sido criada por muçulmanos em 1965 com vista ao derrube do Xá do Irão, foi ainda antes da Revolução Islâmica tomada por membros de tendências marxistas. Com a Revolução e após divergências políticas com o braço político do novo Ayatollah, que resultaram em vários ataques bombistas, o grupo passou ao exílio, considerando-se ainda hoje o legítimo governo do país, sendo apoiado por vários governos ocidentais, incluindo os E.U.A. Nas suas fileiras conta com cerca de 5000 elementos, estando a liderança e operacionais espalhados principalmente pela França, Iraque e E.U.A..

6  [N.T.] A tradução em inglês contém a palavra ‘correctly’ (corretamente), que assumimos ser uma gralha dado o sentido da frase.



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